terça-feira, 31 de agosto de 2010

Olha para trás.


E diz-me o que vês. 
Só andarás para a frente quando atrás de ti existirem pegadas que não secam o chão.  Daquelas que não fazem a terra estalar, mas que também não desaparecem por completo, para te dizerem de onde vens. Segue e mantém a visão periférica atenta, esquecendo-te dela com quem seja merecedor de tal honra. Se perderes a estrada opta pelo caminho mais longo, os atalhos não deixam gosto de sal na boca, nem consegues as nódoas negras que precisas no passaporte que é o teu corpo. Junta as memórias que mais te marcaram e segue. Não escolhas apenas as boas, será impossível fazê-lo, mas nem tentes porque de nada adianta só ter memórias felizes. Procura uma gaveta do lado esquerdo para colocar tudo e arruma-a por temas, não os mistures, nunca os mistures. Se algum dia a gaveta encravar ou cair e o conteúdo espalhar-se, mantém a calma e observa. Olha bem e vê se afinal tudo o que lá estava faz falta. Se sim, volta a arrumar como fazes com as meias, se não, deita fora como aos jornais que perdem relevância.

Olha para trás e diz-me se te vês. Se estiveres lá anda calmamente até ti, fecha os olhos e dá-te a mão. Fica assim uns minutos e olha para a frente. Se te vires não faças nada, deixa ir e segue atrás. Vê-te a seguir caminho e não interfiras. Senta-te num banco, porque um dia o lado esquerdo vai dar de si. Nesse dia a gaveta irá cair e tu terás de ir dar-te a mão, como fizeste contigo. Lê um livro ou ouve música, mas não esperes impacientemente, porque com sorte ficarás aí por muito tempo. 

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