terça-feira, 31 de agosto de 2010

Olha para trás.


E diz-me o que vês. 
Só andarás para a frente quando atrás de ti existirem pegadas que não secam o chão.  Daquelas que não fazem a terra estalar, mas que também não desaparecem por completo, para te dizerem de onde vens. Segue e mantém a visão periférica atenta, esquecendo-te dela com quem seja merecedor de tal honra. Se perderes a estrada opta pelo caminho mais longo, os atalhos não deixam gosto de sal na boca, nem consegues as nódoas negras que precisas no passaporte que é o teu corpo. Junta as memórias que mais te marcaram e segue. Não escolhas apenas as boas, será impossível fazê-lo, mas nem tentes porque de nada adianta só ter memórias felizes. Procura uma gaveta do lado esquerdo para colocar tudo e arruma-a por temas, não os mistures, nunca os mistures. Se algum dia a gaveta encravar ou cair e o conteúdo espalhar-se, mantém a calma e observa. Olha bem e vê se afinal tudo o que lá estava faz falta. Se sim, volta a arrumar como fazes com as meias, se não, deita fora como aos jornais que perdem relevância.

Olha para trás e diz-me se te vês. Se estiveres lá anda calmamente até ti, fecha os olhos e dá-te a mão. Fica assim uns minutos e olha para a frente. Se te vires não faças nada, deixa ir e segue atrás. Vê-te a seguir caminho e não interfiras. Senta-te num banco, porque um dia o lado esquerdo vai dar de si. Nesse dia a gaveta irá cair e tu terás de ir dar-te a mão, como fizeste contigo. Lê um livro ou ouve música, mas não esperes impacientemente, porque com sorte ficarás aí por muito tempo. 

terça-feira, 24 de agosto de 2010

O amor é fonito.

Uma mistura entre bonito e fodido como é óbvio. Podia dissecar isto, mas acho que toda a gente já sentiu ambos os lados da moeda: 
'Ai que estou tão apaixonada e ele gosta tanto de mim, o mundo é belo e amarelo. Vamos ser felizes até far far away.'
ou
'Ai que estou tão apaixonada e ele...nem por isso, o mundo é uma merda. Nunca mais vou ser feliz e far far away é para onde irei mas all by myself.'
Portanto vamos encarar a realidade: O mundo não é justo. Se fosse eu já tinha ganho o euromilhões e tinha um teatro só meu e uma produtora musical. Ah e uma biblioteca. Tenho? Não, portanto voilá isto é uma grande treta. E choramos e perdemos a força, porque não sabemos como ultrapassar os desgostos. E perdemos a respiração e não sabemos o que fazer a tanta energia, porque estamos demasiado felizes e nem acreditamos estar a passar por isso.
Daí dizer há muito tempo que é fonito.

E sim acredito que apesar de tudo e mais alguma coisa que nos acontece, tudo acaba sempre por passar. E sei isto porque hoje uma amiga perguntou-me 'para ti o que é o amor?' e quando percebi esta foi a resposta que escrevi:

- é estar a ter um pesadelo e acordarem-me com um abraço.
- é uma pessoa que se transforma num lugar.
- é acordar de manhã e não ter de olhar para o lado para saber tenho ali amor incondicional.
- é não teres medo de seres tu.
- é não conseguires respirar só de pensar que aquela pessoa pode desaparecer do mundo.
- é saberes que vais chegar a casa depois do pior dia de sempre e que não vais precisar dizer nada, apenas deitar-te no sofá ao colo de alguém e esse alguém vai afagar-te o cabelo e dar-te beijinhos só porque sim.

Achei que bastava e parei. Li o que tinha escrito e porra que afinal até sou um bocadinho nhónhó. Só assim 2%, para não acabar num programa da Fátima Lopes a dizer 'nunca mudes', 'obrigada por existires' e outras coisas que o valha.

Hmm...sinto que devia ter dito 'é quando nos dão beijinhos nas maminhas e mexem no rabo', mas achei demasiado romântico.


quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Orgulho de ex-aluna

Grande este senhor, muito.

O que sempre soube das mulheres, mas tive à mesma de perguntar.

Tratam-nos mal, mas querem que as tratemos bem. Apaixonam-se por serial-killers e depois queixam-se de que nem um postalinho. Escrevem que se desunham. Fingem acreditar nas nossas mentiras desde que tenhamos graça a pregá-las. Aceitam-nos e toleram-nos porque se acham superiores. São superiores. Não têm o gene da violência, embora seja melhor não as provocarmos. 
Perdoam facilmente, mas nunca esquecem. Bebem cicuta ao pequeno-almoço e destilam mel ao jantar. Têm uma capacidade de entrega que até dói. São óptimas mães até que os filhos fazem 10 anos, depois perdem o norte. Pelam-se por jogos eróticos, mas com o sexo já depende. Têm dias. Têm noites. Conseguem ser tão calculistas e maldosas como qualquer homem, só que com muito mais nível. Inventaram o telemóvel ao volante. 
São corajosas e quando se lhes mete uma coisa na cabeça levam tudo à frente. Fazem-se de parvas porque o seguro morreu de velho e estão muito escaldadas. Fazem-se de inocentes e (milagre!) por esse acto de vontade tornam-semesmo inocentes. Nunca perdem a capacidade de se deslumbrarem. Riem quando estão tristes, choram quando estão felizes. 
Não compreendem nada. Compreendem tudo. Sabem que o corpo é passageiro. Sabem que na viagem há que tratar bem o passageiro e que o amor é um bom fio condutor. Não são de confiança, mas até amais infiel das mulheres é mais leal que o mais fiel dos homens. São tramadas. Comem-nos as papas na cabeça,mas depois levam-nos a colher à boca. A única coisa em nós que é para elas um mistério é a jantarada de amigos – elas quando jogam é para ganhar. 
E é tudo. Ah, não, há ainda mais uma coisa. Acreditam no Amor com A grande mas, para nossa sorte, contentam-se com pouco. 

Rui Zink, in "Jornal Metro"